Por Jorge
Nagao
Rei? Não,
estranharão alguns leitores, Hiroíto foi imperador. Então, esclareço que
trata-se de um Hiroíto brasileiro cujo pai era fã do país do sol
nascente. Yamaguchi Falcão, boxeur medalha de bronze nas Olimpíadas de
Londres, é um belo exemplo dessa reverência prestada por seu pai a um amigo
nissei. Quantas Sayonaras existem por aí como a filha do jogador
palmeirense Obina.
Idolatrado
no Japão e respeitado no exterior, o nome do imperador japonês foi
recorrentemente registrado em cartórios do Brasil especialmente nos anos 30
e 40. O pai de Hiroíto de Moraes Joanides, um grego, não imaginava que o seu
filho se tornaria um rei.
Filho de uma
família de classe média, Hiroíto, paranaense de Morretes, nasceu em 1936. Teve
uma infância normal. Sua vida mudou quando foi à chamada boca do lixo para
satisfazer os seus hormônios em ebulição. Gostou do local. E voltou muitas
vezes.
Em 1957, seu
pai foi assassinado a navalhadas. Hiroíto foi acusado pelo crime mas não
foi preso. Decidiu mudar para o chamado quadrilátero do pecado. Não como
um simples morador, mas sonhando em ser o imperador daquele submundo no centro
da cidade, nos arredores da estação rodoviária paulistana no final dos anos 50.
Franzino, de
óculos, culto, não tinha outra opção para se impor a não ser portando armas.
Comprou dois revólveres porque as navalhas começaram a ficar restritas aos
salões de barbeiros. Ao presenciar uma agressão à uma prostituta, esmurrou o
agressor que revidou com pauladas; acuado, Hiroíto sacou a arma e matou
pela primeira vez. Passou a ser admirado pelas pecadoras. Tempos depois,
desacatado quando jogava bilhar, o “japonês”, como era chamado, não
hesitou: passou fogo no desafeto. Mesmo assustado com a sua atitude, sentiu-se
o cara. Era o início da carreira do poderoso chefão.
Logo, de
boca em boca, o seu nome foi crescendo na boca do lixo. Com muita astúcia e
crueldade, traficando drogas e corrompendo policiais, Hiroíto foi dominando
ruas e quarteirões. Quando era preso, um pacote de dinheiro resolvia o seu
problema. Traficando, assasinando friamente os seus concorrentes, virou o rei
da boca. Dormia pouco pois era perseguido tanto por policiais quanto por
bandidos. Para se manter vigilante drogava-se constantemente. Reinou por três ou
quatro anos, até que um dia, a casa dele caiu.
Preso
durante sete anos, escreveu o livro “Boca do Lixo”, lançado nos anos 70 e
relançado neste ano pela Labortexto. O livro retrata aquela São Paulo dos
anos dourados e a trajetória do “japonês” que queria ser amado e tinha o prazer
de ser temido, conforme anuncia o filme “Boca”, de Flavio Frederico. A crítica
destaca as magníficas atuações de Daniel de Oliveira e Hermila Guedes. O filme
que levou quatro prêmios no Festival de Recife, estreia nos cinemas em 28 de
setembro. Lançado em DVD no exterior como “Boca the real goodfather” foi muito
elogiado pela reconstitução da época pelo renomado jornal Variety. Para
quem gosta de ação e não se importa com tantos tiros, consumo de drogas e
safadezas em geral, como mostra o thriller, é um prato cheio.
Jorge
Nagao é escritor e jornalista
Pronto! Você me deixou curioso para ver esse Hiroito, O Imperador, digo, Rei. Baitabraço. Luca.
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