29 de março de 2016

Unida, a esquerda ainda pode derrotar o golpismo


Por Marcelo Barbosa, Kadu Machado e Daniel Samam

O resultado da reunião do diretório nacional do PMDB sanciona a adesão do centro conservador ao golpe em curso no país. A esquerda está sozinha, mas não está isolada: 2016 não será 1964.

Isso porquê, na vigência da constituição de 1988, o peso dos setores populares experimentou um crescimento sem paralelo: os partidos de esquerda aumentaram suas bancadas, os sindicatos cresceram em influência e os movimentos sociais arregimentaram levas de excluídos, no campo e cidades. No plano da cultura, coletivos formados por jovens arejaram o panorama da produção das artes.

Trata-se uma força política capaz de mobilizar multidões e impossível de ser ignorada. Unida, essa esquerda poderá realizar uma façanha inédita na vida pública brasileira: derrotar o golpismo e sustentar a democracia. Fragmentada, sem entender que não se trata de apoiar o governo de Dilma (passível de muitas críticas), mas sim de dar sustentação à legalidade, a esquerda vira linha auxiliar da direita.

A ruptura institucional, ao contrário da percepção de alguns, não adotará a identidade de uma ditadura. Irá se apresentar sob a máscara de uma de uma democracia de fachada. Sob a aparência de Estado de direito, os direitos e garantias individuais sofrerão cancelamento.

Que ninguém se engane, a vitória da aliança entre Temer, Cunha e Serra – em torno das teses do programa Ponte para o Futuro – significará, necessariamente: o fim da política de valorização do salário mínimo, a intervenção nas entidades sindicais mais combativas, a criminalização dos movimentos sociais, o retorno do financiamento privado de campanhas eleitorais, o ataque aos direitos trabalhistas e o aumento da desnacionalização da economia, entre outras medidas de exceção.

Diante da escalada do arbítrio não existe neutralidade. Apoiar propostas diversionistas como o chamado recall ou ainda a convocação de eleições gerais é simplesmente se omitir – como fazem setores da Rede e do PSOL – ajudando a consolidar o bombardeio de saturação das grandes mídias monopolistas sobre a opinião pública.

É necessário engajar todo o povo nos processos de resistência ao golpe mas, principalmente, a representação das favelas e periferias na defesa do regime que mais convém à luta de classes nos marcos do capitalismo: o da democracia política.

Não vai ter golpe!

Todos à manifestação do dia 31/3!

Marcelo Barbosa é advogado e diretor-coordenador do Instituto Casa Grande (ICG)

Kadu Machado é jornalista, editor do jornal Algo a Dizer

Daniel Samam é músico, educador e coordenador do Núcleo Celso Furtado do PT-RJ

 Dois bandidos golpistas

27 de março de 2016

Observações sobre o Judiciário


Por Marcelo Barbosa

Numa democracia representativa, assentada sobre um sistema de tripartição de poderes, cabe ao judiciário exercer uma função estabilizadora do sistema político. Em importante medida porque seus membros desfrutam de vitaliciedade nos cargos. Isto é, não estão sujeitos à ação das maiorias de ocasião que, por vezes, empolgam o executivo e o legislativo. Nessa modelagem, a que o Brasil aderiu desde antes do advento da Constituição de 1988, os agentes públicos do Judiciário guardam fidelidade ao Estado e não aos governos, tornando a instituição menos permeável à pressão econômica, política e social. Ou pelo menos em teoria, deveria ser assim. Mas, não vem sendo. Com o recrudescimento da luta política – sinalizadora do conflito de classes – as disputas em curso na sociedade, cada vez mais, se veem transferidas para o interior do aparelho de Estado, atingindo, em cheio, o judiciário e os corpos públicos oriundos de outros poderes, mas com os quais se relaciona, entre os quais a Polícia Federal e o MP.

Por óbvio, não parece possível – e nem recomendável – “blindar” os tribunais de tudo aquilo que acontece no mundo à sua volta. Magistrados também têm direito de opinião. Sofrem influência das ideologias de centro, esquerda e direita em estoque na sociedade. É inevitável, inclusive, que acabem expressando essas preferências em suas sentenças e despachos. Só não podem (conforme ocorre, ao momento), ser recrutados pela política partidária, pois isso corrói os alicerces da República.

Infelizmente, por motivos diametralmente distintos, o comportamento perante o judiciário das duas parcelas mais influentes da esquerda e da direita, no país, agrava esses fenômenos de partidarização.

Expressão presumível dos interesses de grande capital, exibindo nítida filiação à ideologia neoliberal, o PSDB trata, em sua matriz doutrinária, o judiciário como mais um episódio na rotina de um Estado dito “inchado” e ”ineficiente”. Um leviatã consumidor de excessivas verbas públicas. Cuja principal esfera de atividade – a prestação da justiça – deveria ser resolvida por mecanismos de intermediação (e conciliação) de demandas, sempre preservada a autonomia de vontade das partes envolvidas em litígios. Nessa chave de compreensão, era melhor que o judiciário ou não existisse – utopia inalcançável até na ótica dos discípulos de Friedman – ou pelo menos, ocupasse um papel bem menor na vida social.

Claro, essa descrição do pensamento tucano em relação ao judiciário – exposta aqui em tom de caricatura – não encontra abrigo na realidade. Para fins práticos, os neoliberais buscam cooptar a justiça*. A indicação dos nomes dos ministros a compor os quadros do STF representa o evento culminante dessas práticas. Mas, não o único. Pois, desde os seus níveis elementares, a magistratura, refletindo a origem de classe de seus agentes – e com as naturais dissidências progressistas ou conservadoras – vai sendo adestrada para viabilizar um impasse: a reprodução de um regime de liberdades políticas sem correspondência no plano da luta pela igualdade social. Isto é, progressistas (na média), em matéria de costumes, direito de minorias, discriminalização das drogas leves, entre outros tópicos, os juízes costumam a ser conservadores na preservação dos direitos de propriedade (no que caminham a contrário sentido da Constituição de 1988, carta comprometida com a noção de caráter social do direito de propriedade.)

Esses mecanismos de formação de um pensamento hegemônico nos quadros do judiciário – marcados, repita-se, pelo uso de ferramentas de cooptação – serviu sem abalos, até a irrupção do esgarçamento social abrigado nos protestos de 2013. Desde então, ao que tudo indica, vai se verificando – e as práticas do juiz Moro o comprovam – um enfraquecimento do compromisso da magistratura com preservação dos direitos e garantias individuais e coletivas. As informações veiculadas nas mídias, tanto nas redes sociais quanto nas cadeias monopolistas de informação, atestam o declínio da observância aos princípios da inocência presumida, do acesso ao habeas corpus, da obediência à competência territorial, vistos na qualidade de estorvos à prestação da justiça e subterfúgios para beneficiar “a impunidade” (sic). Na narrativa da linha dura judiciária, em face do crescimento endêmico da corrupção, só resta apelar à Providência e confiar no envio à Terra de uma personalidade ou de várias personalidades justiceiras encarregadas de “passar a limpo o país” (sic). Um enredo gasto e responsável pela entrada na cena da vida pública brasileira de personagens no figurino de um Collor de Mello ou de um Janio Quadros. E que agora serve de senha para o exibicionismo autoritário de parcelas do Ministério Público.

Por sua vez, a esquerda, principalmente aquela ocupante do poder (ou seja, o Partido dos Trabalhadores e seus aliados), mesmo após a sua condução ao governo Federal, jamais se deu ao trabalho de desmontar os mecanismos de cooptação. Pelo contrário, intentou colocar esse processo a seu serviço. Não agiu assim por oportunismo. Em seu corpo teórico de fundação, o PT, coerente com certa vulgarização do marxismo, concebia o judiciário e o direito dentro do estatuto de superestrutura da ditadura de classe burguesa. Um espaço da dominação estamental dado, de antemão, por perdido, em vista do conservadorismo congênito das instituições jurídicas. Caberia buscar o realismo, portanto. Reduzir os interesses do executivo à tomada de decisões que provocassem impacto direto no governo, sobretudo as de natureza orçamentária, mas sem nunca adotar uma agenda de objetivos de longo prazo para o judiciário.

Mesmo quando resolveram fixar objetivos menos imediatos em relação à administração da justiça, as iniciativas dos governos do PT objetivaram apenas promover as expectativas da população em relação aos tribunais: ou seja, criação de mecanismos de controle externo do judiciário, diminuição da morosidade nos processo ou democratização do acesso à prestação jurisdicional, para mencionar as ações mais rumorosas. O aspecto da formação valores capazes de orientar a prática dos magistrados no rumo do aprofundamento da democracia e da igualdade – temas que servem de coluna vertebral da Constituição de 1988 – permaneceu intocado. O vácuo da necessária politização do judiciário foi ocupado pela propaganda partidária.

A resultante de tais processos? O risco do poder judiciário continuar rumando – à marcha batida – para assumir, no presente e no futuro, o papel desempenhado pelas Forças Armadas no passado: o de veículo de insatisfação permanente das camadas médias, operador da desestabilização da democracia.

* O método da cooptação remete a uma herança das velhas elites territoriais, ainda ativas porém em franca decadência, presentes em boa parte, na estrutura do PMDB.

Marcelo Barbosa é advogado, doutor em Literatura Comparada pela UERJ e diretor-coordenador do Instituto Casa Grande e autor, entre outros, de A Nação se concebe por ciência e arte – três momentos do ensaio de interpretação do Brasil no século XIX

4 de março de 2016

Caiu a máscara, estamos diante de um golpe de Estado!


Caiu a máscara, estamos diante de um golpe de Estado!

Os direitos e a garantias individuais foram cassadas. Quem manda é um juiz provinciano, pau mandado do conluio entre a mídia monopolista e as grandes empresas internacionais.

O que está em perigo agora não são mais Lula, o PT ou ainda o próprio governo eleito em 2014, mas sim a democracia.

Se essa gente – que inclui uma saliente franja fascista – for vitoriosa, nós vamos transitar para um Estado de Exceção travestido de legalidade. Tal qual ocorre na Argentina, ao momento.

Todos os democratas devem resistir: nas ruas, nas redes sociais, nos sindicatos, nos movimentos, nos coletivos culturais, enfim em todos os espaços da vida pública. Vamos barrar o retrocesso!
Marcelo Barbosa