Por Jorge Nagao
Elis
Foi numa terça-feira de janeiro, tristemente inolvidável.
A implacável notícia emudeceu quem estava conversando no bar, no cais, ou numa casa de campo. Muita gente foi chorar atrás da porta – um compositor me disse. Era o fim da travessia. Quando você foi embora fez-se noite em meu viver.
O trem azul do destino veio pela transversal do tempo e, traiçoeiramente, arrebatou você do nosso convívio.
O arrastão da morte veio de modo fulminante dando chibatadas em nossos corações e pirando nossas cabeças.
Por você chorou o menino das laranjas, a nega do cabelo duro, o bêbado e a equilibrista, assim como os nossos pais.
Por isso o povo foi se despedir de você numa gigantesca romaria.
Agora, nada será como antes: é dor pra lá, dor pra cá.
Jamais conversamos, Elis, mas éramos hermanos – gracias à la vida!
Você foi fundamental cantando o hino da anistia, enfrentando o Dono da Voz, denunciando os donos do poder, alegrando a batucada da vida. Para a nossa plena fascinação.
Você ficará em nós como tatuagem, marcada pela ousadia e pela emoção.
Afinal, amiga é coisa pra se guardar do lado esquerdo do peito, dentro do coração.
Elis, a nossa saudade. A saudade do Brasil.
Janeiro de 1982
Jorge Nagao é escritor e jornalista
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